quarta-feira, 13 de maio de 2020

Trilogia Escarlate




I

Dorme e acorda a cidade.
Acordam e dormem os sonhos.
Anseios, angústias em comunhão.
E já se vão dois meses.

Muitos vaticinam em vão.
Da rua eu tenho medo.
Agora, em fobia eu pareço.

Na vida, tudo tem o seu preço.
Uma máscara ou um avião.
Houve o tempo da "belle epoque",
do Tostão e da escravidão.

Hoje vivemos em "lockdown".
Mascarados em figutiva e
literal figura, ladrão e cidadão.

II

Elas passavam levemente. 
Lentamente tingindo-se de rubro.
Ah, que belo tempo perdido!
Ah, que paleta escarlate!

A cidade continuava lá. 
Parcos transeuntes a perambular. 
As casas, os prédios respiravam.

Eu suspirava olhando o horizonte. 
E as nuvens passavam,
como passa o gado, os desejos.
Mas, para onde?

Do tempo, eu conheço a sina.
O seu destino, a sua eterna 
e doravante cantiga.

III

E a noite tombava em cianos tons.
Pesadas nuvens iriam passar.
O céu, o sereno, a mágoa também.
Por último, se foram os marrons. 

Todos estavam lá na despedida. 
O último Cúmulo ferido partiu,
arranhando o firmamento.

Efêmero era aquele momento.
Certo e curto o seu vencimento.
Paro ali porque quero, e espero.
Pois, amanhã eu não sei.

Ouço a minha amada.
Até mais doce Aurora!
Até semana que vem!

Isaac Furtado



Nenhum comentário:

Postar um comentário