sábado, 16 de maio de 2020

Patuás e Canários


Um vento estranho soprou do Oriente.
Não foi o pólen das margaridas que ele levou.
Tão pouco, disseminou o amor entre os homens.
Rapidamente ele cruzou montanhas,
mares, barreiras intransponíveis.

Ele foi rápido e atroz! Secando o trigal
de repente, nas primeiras horas de
uma manhã dormente.
Os dois pilares dóricos não foram fortes
o suficiente, e o mundo inteiro quase desabou. 

Era um vento sem tempestade,
e nenhuma folha se mexia,
somente homens tombavam.
Pessoas fugiram para suas casas,
com seus sonhos, patuás e canários.

A primavera passou ao largo,
sem cheiros ou amores.
O rei invasor foi um vento tirano,
avassalador e soprou, soprou.
Humilhando Átila, Gengis Gan
e Nabucodonosor.

Doravante, mais do que sorte precisaremos,
e o clichê dos três "F"s fez-se reticente.
Foco na organização do lar, do trabalho,
corpo e mente.
Força para atravessar tormentas
e nadar contra a corrente.
Fé, pois amanhã será diferente.

Assim, como um dia foi, uma tarde é,
uma noite será melhor, ou pior de repente,
mas nunca será indiferente.
Do trigo seco fez-se pão, e de um ninho
displicente nasceu um pequeno rebento.

Foi quando todos saíram de casa,
agora mais atentos,
olhando sempre para o horizonte.
O mundo era agora diferente,
estávamos vacinados,
vigilantes.


Isaac Furtado 

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