quinta-feira, 21 de maio de 2020

O farol

Hoje acordei cedo, antes da hora,
na verdade, antes do dia nascer.
Ainda no torpor da noite,
olhei pela fresta da cortina,
vi os primeiros tons da manhã,
as primevas cores do alvorecer.

Era o Sol a nos animar.
Tingindo em tons violáceos,
da primeira e púrpura luz
de uma manhã vazia.
Todos ainda a dormir,
mas ele insistiu,
desafiando o horizonte.

Pintando nuvens distantes,
agora de laranja, quase rubro.
Eram os primeiros acordes,
da divina sinfonia do dia.
Mas, ainda ninguém acordou.
O Sol já a meio palmo
do céu então se irritou.

Ordenou aos ventos
que se retirassem,
nenhuma folha se movia.
Foi quando ele derramou
o seu calor descomunal
sobre os pobres mortais.
Mas, ainda ninguém apareceu.
Nas ruas, duas almas perdidas.

Apolo sem entender, enviou 
Mercúrio para terra, querendo 
entender o porquê daquela calmaria.
Em segundos ele retornou.
  • Meu senhor, uma peste!
  • Como assim mensageiro?
  • Um contágio, uma praga!
  • E quem se atreve a ser mais
poderoso do que eu?
  • Um ser invisível, minúsculo, 
e ainda porta uma coroa.
  • Nenhum rei irá me destronar!

E assim o dia passou, quente, vazio,
num descompasso inédito, desesperador.
Em Zênite o Sol não abrandou seu calor.
Mostrou que ele é o mentor da vida.
Caminhou sua implacável sina para o Oeste.
Naquela tarde morna, ainda ensaiou pintar
com uma paleta diferente. 
E em pesados tons de azuis marinhos
foi deitar-se despercebido e irritado.

Passando o bastão para Nix,
deusa e rainha da escuridão.
Mas, ainda havia estranheza.
E nem a beleza da diva
fez os humanos felizes.
Todos estavam acuados,
trancados nas suas alcovas,
dormentes, apavorados.

Foi quando Minerva se apiedou.
Deu de presente para os frágeis humanos
um farol. E avisou!
  • Sejam clementes!
  • Sigam a luz pulsante da vida.
  • Sejam pacientes!
  • Segurem a esperança perdida.
  • Salvem o seu próximo!
  • Sempre haverá um novo dia.

Isaac Furtado 

Escrito no dia 21 de março. No Dia Internacional da Poesia. 








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