quinta-feira, 20 de março de 2014

Geografia Humana


Nossas rugas são regatos, relevos sulcados pelo tempo.
Onde a chuva e o vento trabalham a sua maneira.
Construindo picos nevados e desertos,
tornando nossa face um mapa único.


Cachoeiras formadas por lágrimas transbordam dos olhos.
Canions escondem tesouros, sob pêlos e cicatrizes.
Nossa boca, um vulcão por onde a terra tudo extravasa.
Nossos pensamentos e raivas na forma de lava.


Nosso horizonte fica além da fronteira, sempre a expandir,
sempre buscando amanhãs. Como os rios a procura do oceano.
Trilhando geografias, criando ilhas, separando continentes.


O tempo vai modelando tudo, crespando as curvas dos vales.
Narizes e ouvidos são montanhas e serras de longevidade.
Luvas para mãos, máscaras para idade.

Isaac Furtado.


Arte de Ed Fairburn.

quarta-feira, 19 de março de 2014

Nas fronteiras do cérebro

Na antiga civilização Egípcia o nosso cérebro não era muito valorizado. Tanto é que, no processo de mumificação, ele era o primeiro a ser eliminado e esvaziado pelo nariz. O coração sim, este foi por muitos séculos considerado a fonte da vida e do saber. Hoje, em pleno século XXI, estamos mais próximos do que nunca de desvendar os segredos do cérebro. Da sua anatomia já sabemos muito, da sua fisiologia estamos cada vez mais próximos de entender os processos muito delicados de como funciona a memória, do caminho das vias sensitivas e motoras até as funções cognitivas. Freud já estudou muito os nossos sonhos, e deles retirou muitas interpretações que ainda hoje são discutidas por psiquiatras e estudiosos da área. Ele foi fundo, lá no nosso inconsciente, nas memórias mais escondidas e ocultas. No século XX, muito foi descoberto do córtex, das áreas específicas como visão, fala e audição. Os processos degenerativos do cérebro, como Alzheimer e Parkinson, são cada vez mais decifrados, podendo estar ligados a genes ativados ou desativados de modo anormal. Onde medicamentos e intervenções cirúrgicas são utilizados para diminuir o avanço destas patologias. No entanto, muito ainda falta. Com o advento da computação, houve uma oportunidade de criar programas, para que possamos fazer estudos de como o cérebro realmente funcionaria. Com a cibernética e a robótica foi criada uma interface entre o homem e a máquina. Hoje, já vemos mãos biônicas que são controladas por sensores fazendo uma conexão entre neurônios e cabos elétricos. Sensores ligados à retina fazendo pessoas enxergar novamente. Exoesqueletos já estão em andamento para que deficientes possam andar. Um cientista brasileiro, Dr. Miguel Nicolelis e os seus colegas da Universidade de Duke, têm planos de fazer uma criança paraplégica dar o pontapé inicial na copa do mundo em junho. Estudos em ratos demonstram áreas da memória que brilham quando ativadas. As cores do pensamento começam a ser pintadas em uma tela maravilhosa, e o artista principal com apenas 1,4 quilo tem muito a nos encantar. Acredito que muita coisa boa ainda está por vir, que nossos neurônios façam trocas com redes de informação através de terabytes para computadores super avançados. Que back-ups da nossa memória sejam feitos, e também possamos aprender apenas nos conectando a um pen-drive, ou algo parecido. Ficção? Talvez, mas só o futuro nos dirá!

sexta-feira, 14 de março de 2014

Não somos de aço!

O aumento mais rápido dos músculos é a principal causa do uso de anabolizantes. Muitos começam apenas com suplementos alimentares que são nutrientes elaborados a partir de aminoácidos, proteínas e carboidratos. Os suplementos são apenas coadjuvantes e só trazem benefícios quando associados à atividade física e boa alimentação. E mesmo os suplementos devem ser orientados por um profissional de saúde, pois em excesso, podem causar danos no fígado. Uma dieta rica em proteínas se faz necessária quando a atividade física é intensa. Para pessoas que procuram um corpo definido e normalmente fazem musculação diariamente, o resultado chega a determinado ponto em que não veem mais aumento dos músculos, ou veem outras pessoas com uma musculatura mais definida e maior. Então, elas partem para outros recursos, como o uso de anabolizantes, para obter um crescimento maior dos músculos. O nosso organismo funciona com um delicado equilíbrio entre os sistemas endócrino, neurológico e imunológico. Os anabolizantes são hormônios esteroides, e um aumento pequeno de um hormônio pode causar outras alterações mais graves no corpo. Logo, quando uma pessoa ingere ou injeta alguma substância com o intuito de conseguir aumento muscular, com certeza, terá muitos malefícios. Alguns deles para ambos os sexos, como pressão alta, podendo levar a um AVC (acidente vascular cerebral, o derrame); tumores que são estimulados pelos hormônios (na mama, próstata e no fígado), perda de cabelo; alteração nos ossos do crânio; aparecimento de acnes. Nos homens existe a hipertrofia de próstata, atrofia de testículos, aumento das mamas (ginecomastia) e diminuição da libido. Nas mulheres, o aumento de pelos, a voz mais grossa, o ciclo menstrual desregulado ou ausente. Logo, os efeitos adversos e colaterais devido ao uso de esteróides anabólicos vão aumentando conforme o aumento das dosagens e como num ciclo vicioso, tornando-se cada vez mais necessários e devastos. Os efeitos fisiológicos benéficos na musculatura não justificam o uso dos anabolizantes quando olhamos o organismo como um todo. Não recomendo em nenhuma. Arte: Park Seung Mo

terça-feira, 11 de março de 2014

Quelóide

Quando ocorre o fechamento de cicatriz, no nosso corpo começa um processo de refinamento e clareamento daquele local. Porque algumas pessoas têm uma cicatriz tão perfeita, quase imperceptível, e outras formam verdadeiros tumores na região afetada? A cicatrização tem três etapas distintas. A primeira é a fase Inflamatória com duração de alguns dias (em torno de quatro), a segunda é a Proliferativa, com duração de vinte dias (aproximadamente) e a última é a de Maturação que inicia no 21º dia, podendo durar meses. É na última fase que o processo de cicatrização vai se estabelecer como boa ou má cicatriz. A densidade celular e a vascularização da ferida diminuem, enquanto há a maturação das fibras colágenas. Ocorre uma remodelação do tecido cicatricial formado na fase anterior. O alinhamento das fibras é reorganizado a fim de aumentar a resistência do tecido e diminuir a espessura da cicatriz, reduzindo a deformidade. Durante esse período a cicatriz vai progressivamente alterando sua tonalidade passando do vermelho escuro ao rosa claro. No entanto, em algumas pessoas não ocorre a redução do colágeno e alguns fatores da segunda fase ainda continuam agindo, ocorrendo um aumento da cicatriz. Existe uma diferença entre cicatriz hipertrófica e queloide. Na cicatriz hipertrófica, a causa principal é a localização, normalmente em regiões de articulações ou onde existem muita tensão e movimento. Já o queloide não depende desses fatores externos, mas da tendência intrínseca de cada pessoa. A cicatriz hipertrófica é larga, mas não é muito alta. O queloide é alto e o seu limite pode ser vegetante (expandindo-se além do limite da cicatriz), com dor e prurido (coceira) no local. O melhor tratamento, como sempre, é a prevenção. Nas primeiras semanas depois da cirurgia, os curativos são primordiais para uma boa cicatriz. Em seguida, o uso de placa, gel ou spray de silicone inibem a proliferação de vasos no local, assim como a massagem com algumas substâncias, como o corticóide e a Rosa Mosqueta que também são muito úteis. O melhor corticóide indicado é a Triancinolona que, em casos mais graves, pode ser injetada pelo médico, com muito cuidado, no local, pois pode formar uma depressão se aplicado em demasia. Existe também uma forma de radioterapia para o tratamento do queloide, que é a Betaterapia. Esta deve ser feita até 48 horas depois da retirada da lesão, para que tenha uma boa ação. Os tratamentos podem ser somados e devem ser bem acompanhados pelo cirurgião, pois a persistência é o maior aliado no tratamento do queloide. Estudos com células-tronco oferecem perspectivas no tratamento e prevenção do queloide, que hoje é um dos maiores inimigos do cirurgião plástico.