sábado, 19 de março de 2022

CALIGRAFIA



Levei milhares de anos, com traços e pontos cuneiformes para me aperfeiçoar. Arranhei do barro mole, aos pergaminhos dos cordeiros. Das sombras das rupestres, às pedras dos mais altos cumes. 


Desenhei hieróglifos em papiros, esculpi muitas guerras em obeliscos e pirâmides. Estelas foram fincadas no chão, todas dedicadas à glória da eternidade. Criei o zero e o símbolo de multiplicação. Somei tudo buscando uma perfeita equação, um símbolo para o infinito. 


Escrevi o mito do Alfa ao Ômega, agradeço aos gregos e romanos. Escrevi a fé nas tábulas rasas dos profetas por milhares de anos. Sejam eles Celtas, católicos ou muçulmanos. Escrevi a ciência de Hipócrates e de Avicena. 


Sou a beleza escrita, seja nas iluminuras góticas, ou nos calendários Maias, no Kanji japonês ou no cachemir chinês. Numa medina otomana ou num templo indiano. Seja na sinuosa Art nouveau ou nos ângulos da Deco. Eu sou mais que memórias, sou os códigos escritos da história que perdura. E do A ao Z eu sou o teu traço, teu registro, tua assinatura.


Isaac Furtado 




segunda-feira, 7 de março de 2022

Flagelo Vermelho

 



 

 Esse flagelo vermelho que ceifa a vida. Essa besta flamejante que espuma veneno e exala enxofre. Esse demônio que é filho da Ambição com o Orgulho, a GUERRA. Criatura que participa da desleal batalha entre a vida e a morte. No entanto, curta é a sua desolada vitória em zona de ninguém. Seus louros são arames farpados com sangue de inocentes. Seus Campos Elíseos, pântanos enlameados de desilusão. A vida nunca se vinga, ela apenas se sobrepuja. E mesmo no mais ermo páramo, ela desabrocha. 

 A guerra entre o homem e o homem é insensata. É deleite para o mal, que assiste de camarote rounds de carnificina. Quando uma bomba cai sobre um hospital, sobre uma creche, ela cai na verdade sobre a esperança na humanidade. Homo sapiens ou Homo bélicos?

 A noite não traz sossego, apenas uma breve trégua de um amanhã incerto. Cidades caem em escombros, ruínas sem musgos, sem brilho. Pessoas fogem das suas ruas, dos seus bairros, estados, países. Mas, ir para onde? Se a bomba nos segue tão longe! Se a pomba não é páreo para o drone! Prenúncios apocalípticos aceleram e apertam nossos corações.  

 Palavras de nada valem se não temos o dedo no botão vermelho. A liberdade não é o mérito do livre-arbítrio, apenas a responsabilidade de levar nas costas o dever de fazer o bem e construir algo melhor. Porém, muitos não querem isso. Preferem ser marionetes de algum ditador. Palavras ao vento de um mundo surreal. Como queremos construir um universo virtual? Se mal cuidamos do nosso quintal?


Isaac Furtado