sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

Más caras




 Estamos vivendo um momento de máscaras, mas não aquelas que nos protegem das pandemias. Eu vou falar das máscaras colocadas para nos proteger do vazio existencial que paira sobre nós. Como aquele emoji do sorriso, vejo todos felizes nas mídias sociais, no entanto, a realidade é outra. A cada dia, vejo mais caricaturas grotescas de uma sociedade fissurada, alienada em bolhas instáveis, sedada e medicada por psicotrópicos. Porém, muito distante de ser tratada.

Tratamento não é maquiagem, é algo mais profundo e duradouro. Antes de ser cirurgião plástico, sou médico, e como tal, eu devo restabelecer a saúde daqueles que me procuram. Praticando a "Ars curandi", a arte de curar. Infelizmente, muitos esqueceram do verdadeiro conceito de saúde, do restabelecimento do bem estar físico, psíquico e social.

O caminho para restabelecer nossa saúde física, começa com uma alimentação saudável e a prática de atividades físicas. Com um objetivo não apenas estético, mas, por exemplo, para melhorar a nossa imunidade. Depois, para falar da saúde psíquica, eu tenho que conhecer as ansiedades e angústias dos pacientes, ouví-los e confortá-los. Finalmente, para falar da saúde social, eu tenho que entender o pensamento coletivo, saber das diferenças da sociedade, dos grupos separados por ideologias, religião etc. Compreender que todos acreditam nos seus anseios, e não serei eu que direi se são legítimos, apenas o tempo e a história. Enfim, temos que nos conformar que jamais agradamos a todos.

Após estabelecida a saúde, podemos seguir em frente. Como cirurgião plástico, eu procuro construir a beleza através de procedimentos cirúrgicos. No entanto, para ter sucesso no resultado o paciente deve, além de estar com a saúde plena, seguir as orientações no pós operatório, o que não é fácil.

Mas, voltemos às máscaras! Atualmente, vejo muitas caras de emojis, com lábios desproporcionais e alterações que desfiguram a identidade. De toda forma, vejo pessoas se escondendo sob máscaras. Tudo muito superficial, transitório e fútil. Não vejo profundidade em nada, não vejo conteúdo ou conhecimento. Apenas, dancinhas de quinze segundos. Não existe mais leitura, cultura, apenas uma desconstrução de tudo, da arte, da ética e da moral. Eu procuro construir boas caras, alegrando bons corações, aquiescendo mentes sãs. E tenho esperança que ainda nos livraremos das máscaras descartáveis e, principalmente, das más caras.


Isaac Furtado