Procurei além da pele, carnes e matéria.
A essência que anima, a alma além do animal.
Esperei algum sinal, algo além das rugas
e dos brancos cabelos arrogantes.
O silêncio de um papel sobre a mesa.
O lençol da cama a espera dos amantes.
O canto à palo seco das madrugadas.
Fitei o espelho, implorando por respostas.
Procurei atalhos no ontem e no amanhã.
A eterna e divina matriz de tudo que se move.
Esperei a folha secar, o vento abrandar.
Nada! Somente ideias vãs e fogos-fátuos.
Esperei o mapa do meu estado se transformar.
Seus quatro cantos percorri. Vi extremos
da praia ao sertão, da fartura à desolação.
A tinta da caneta eu sei que irá secar,
a bulha no meu peito, a dor em peso,
o traçado de um eletrocardiograma,
o ritmo de toda essa bossa,
já não tão nova, irão parar.
Se passageiros nesse mundo somos,
quero a glória transitória abraçar,
e beijar o espelho d’alma.
Pois, imortal é a beleza do bem fazer,
é o último romance assinado,
o quadro pendurado na parede,
o filho mais novo já formado.
Imortal é o amor de um bem querer.
Isaac Furtado
(Poesia do livro CADERNO 53, lançado recentemente na XIII Bienal Internacional do Livro do Ceará.)