segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

O olho azul e as rosas brancas


A rosa branca do Natal passado já pende,
olha para o chão como que sabendo do seu destino, a terra.
Os olhos azuis do Tim ávidos por carinho e capim,
um dia também para o chão se voltarão.
A Terra acolhe, recolhe, e revolve a vida da semente.
Até a energia pura ela absorve, aterra sem nada pedir em troca.
Sobre a Terra, tudo tem o mesmo destino.
Como o animal atropelado, hoje apenas uma mancha no asfalto.
Como o leite no seio materno que o menino secou.
Ou a chuva que trouxe o cheiro do mato, mas logo passou.
Tudo acaba, acabará.
Marque as suas palavras em pedra, meu amigo,
ou nas nuvens da internet.
Marque a sua passagem, eu te digo,
para que lembrem bem de ti. E de bem!
Marque, sem mesmo nada escrever.
Pois, se o amor fizeres,
nada, nem a terra há de comer.

Isaac Furtado

domingo, 4 de dezembro de 2016

Poeta imortal

POETA IMORTAL




O poema era sujo, mas belo e vivo,
ontem e hoje altivo. Um poema nunca morre,
apenas nasce. Pois os seus versos são filhos eternos.
Morrem os secos de espírito, os que nascem velhos.

O poema era sujo porque falava de sexo, de cheiros,
e de nomes esquecidos. Mas, um poema sempre vive
na noite marginal, ou na lembrança da terra natal.
Morrem os becos devorados pela cidade.

O poema era sujo, mas pura verdade.
Verdade, assim como amanhã haverá uma emoção,
uma ressaca, um novo amor, e uma desilusão.
Morrem os loucos, os ideais... a loucura jamais.

Isaac Furtado

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Wolves




We  are among wolves. 
There is no good or evil. 
Only the cold around 
and the huge hunger 
that terrifies the ground. 

Be quick, smart at less
and work in groups,
that soon winter will pass. 
Soon the small wolves 
will descend the mountain again. 

That is the nature, no fear or pain.

Isaac Furtado.

Foto: Montagem de foto de Hiroshi Sugimoto, "Alaskan Wolves", 1994, com os olhos de Mônica Belucci ao fundo.

domingo, 31 de julho de 2016

IBIAPABA



O velho cacto persistia indiferente a tudo,
sem muito visco, sem muita glória.
Ali, mudo com a sua coroa de espinhos,
sentindo-se abençoado pela igrejinha.
Outra demão de tinta foi dada,
e a praça toda caiada fazia
lembrar a inocência doutrora.
As cadeiras de balanço nas calçadas,
comadres a falar da vida alheia.
O jogo de dominó no bar da esquina.
E a buzina da bicicleta desenfreada
esbarrava no tempo, trim-trim...
A antiga estação de trem
da pequena Ibiapaba
fica logo ali em baixo.
Esperando por finas encomendas,
despachando finados desenganos.
O rio PotI suspira,
mas, ninguém o ouve,
e as suas intermitências
ficam cada vez maiores.
Esperando antigos favores,
uma represa d'água que não chega,
uma breve solução almeja.


Já passava do pino do meio dia,
o movimento da praça desapareceu.
Apenas um cachorro procurava por uma sombra.
O vento quente do sertão deu uma rajada,
e as frondosas Acácias se agitaram,
avisando que ainda havia vida por ali.


O velho cacto observava imóvel,
ali sentado no seu trono
de lata enferrujada.
A espera da próxima chuva,
da promessa pífia da política.
Aguardando aquele céu bonito,
que aparece quando o inverno dá a sua graça.
Aguardando que a sua prece seja rogada.
Pois, esperar por quase nada,
é a sua triste sina.

Isaac Furtado

domingo, 24 de julho de 2016

Máscaras da Humanidade

Os filósofos há muito tempo já nos falam do paradoxo do contrário, onde a juventude e a velhice coexistem no mesmo ser, mesmo corpo e mesma alma. Existe sim beleza na velhice, no “saber envelhecer”, pois existem aqueles de setenta anos que têm a mente de jovens, e no contrário, aqueles que já nascem velhos. Não como no filme “O estranho caso de Benjamin Button” em que o protagonista vai ficando mais novo com o passar do tempo, até morrer como um bebê no colo da sua amada, mas, pessoas que negam veementemente as marcas do tempo. Ao contrário de muitos filósofos, eu acredito que as marcas externas impressas na nossa face não são o verdadeiro problema, mas sim, as rugas escondidas na mente que tornam velhos aqueles que colocam suas máscaras sem cuidar do seu interior.


Os anseios narcísicos são maléficos quando, isoladamente, são buscados de uma maneira impensada e como forma de preenchimento de algum vazio, ou trauma interior. E desta maneira torna-se danoso àquele que em nome da autoestima trata apenas das máscaras superficiais.
Confrontando a cirurgia plástica e a psicanálise, eu diria que a primeira trata da máscara externa, e a segunda, das máscaras escondidas nas entranhas do inconsciente. As duas são de difícil tratamento, a cirurgia exige uma habilidade por parte do cirurgião plástico, não apenas de saber operar, mas de compreender os anseios particulares de cada paciente. E a psicanálise, pela paciência por parte do psicanalista em saber conduzir por anos uma catarse que não necessita de bisturi, onde o mal será extirpado pela palavra do analisado. E desta forma, estas máscaras podem sim, ser tratadas e cambiadas em nome da beleza, ou da juventude.
Não é pecado querer ser jovem, ou pensar-se como tal. Estamos vivendo em uma era de muitas benesses, onde a medicina oferece todo amparo para o corpo (da pele à calvície, do hormônio bioidêntico ao alimento integral, da cirurgia endoscópica ao quimioterápico). A literatura oferece toda informação possível para construção do nosso saber (da internet à livraria, da literatura de autoajuda às biografias completas, do artigo científico às redes sociais).
Hoje, a informação está literalmente no ar, só não se informa quem não quer. Só envelhece mal quem quer, pois todos sabem dos males do cigarro, do colesterol etc. Tem pessoas que ainda comem batata frita com refrigerante, que vivem de maneira sedentária e frequentam fumódromos. Em tudo há dualidade, o fazer ou não fazer o certo ou o errado. A natureza humana é dual, o corpo e a mente, o conflito e o equilíbrio. Devemos caminhar juntos em prol do “saber envelhecer”, e a fonte da juventude está no equilíbrio, no caminho do meio. Em comer bem, não comer muito, em dormir bem, acordar, ser feliz, amar, fazer cirurgias plásticas, terapias, brincar com as máscaras do tempo como no teatro, sabendo que sempre existirão as duas – a da comédia e da tragédia.

Isaac Furtado

terça-feira, 19 de julho de 2016

A IMORTAL E OS LEÕES



Me aventurei adentrar pela praça iluminada.
Senti um vazio, nela ninguém transitava.
Perdera sua alma, seu motivo de ali estar.

Não havia mais risos, nem velhos amigos.
Tão pouco namorados a cochichar segredos.
As crianças que ali brincavam já se foram.
Ficaram apenas alguns gatos a vadiar.

O coreto no centro da praça acolhia o silêncio.
Outrora, testemunho de versos declamados.
Onde hinos e marchinhas animavam esperanças.

Um vento soprou de repente, revirando velhos jornais
e avivando cheiros nada agradáveis de respirar.
Caminhei mais um pouco naquela solidão.
Ouvindo uma música de alguma festa distante.

Vi a lua surgindo portentosa, querendo animar.
Mas, indecisa escondeu-se atrás do velho Ficus,
e já cansada de seguir sozinha pela noite, dormiu.

Vi dois bancos ocupados e sinistros vultos a vagar.
Muitas luzes cintilavam naquele palco vazio.
Ao longe, os vitrais da catedral coloriam.
Mas, tudo era nostalgia naquele lugar.

Vi a querida Rachel no seu banco pedestal.  
A imortal descansava sob o seu manto de bronze.
Vi que novamente levaram-lhe os óculos. Até sorri.

Já saindo, vi que os bravos leões não rugiam mais.
Eles hibernavam como num transe atemporal.
Vi então, que toda praça estava dormente,  
Esperando por mim, por você, pela gente.

Isaac Furtado

Obs.: Poesia feita após um breve passeio pela Praça dos Leões.

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Às três horas da manhã.



Nunca me acostumo com a morte. Vai dizer que foi cedo, ou que foi pouca a sorte? Nunca consigo dizer se foi boa, a morte. Doravante, no meu peito insone se forma um aperto e um pingo distante se faz a cada minuto mais audível. Navego no intuito de entender esse mistério escuro e indecifrável.  
Às três horas da manhã, o tempo congela, o pingo engasga, mas continua a cair compassadamente ...com-pas-sa-da-men-te.
O pensamento me esmaga, o ar já se foi, restou apenas uma força de ficar mais um pouco. Receber um carinho, um afago, um cheiro.
A noite quente parece me devorar. Não ouço mais o pingo. Minha vista embaça,  pede descanso. Mas, sou um vigia de sonhos, aquele que pinta no escuro salpicos que se dizem estrelas. Aquele que busca na ingênua poesia uma exclamação. Aquele que brinda com vinho, brinca com sangue e se acha um Pigmaleão.
Continuo a escutar o seu ronronar, como um mantra a me absorver. E sem querer me despedir do seu lindo olhar, me pergunto, porque chorar?
Se tudo um dia se acabará. Se o verde das folhas, o outono irá devorar. Se as brancas dunas ciganas, o vento irá soprar. Até o dia que não nasce, vingará! Então, porque seguir? Se o ficar é mais fácil. Se o suspirar é mais doce do que o grito. Se o calar consente e a palavra fere.
Espere, então entre o ir e o ficar, conheço apenas uma palavra que transita por mundos e atende por AMOR.
Aquela que arde na noite quente,
que perde o ar e o sentido.
Aquela que tudo transcende,
que diz não à razão.
Aquela que atravessa o dia para se entregar à escuridão, que foge de todas as explicações possíveis.
Aquela que cala, grita e consente,
que faz o tempo parar e nos torna invencíveis.
Aquela que se explica, simplesmente
por existir. Pois, se não houvesse o amor, para que então viver por aqui?
Amamos sim, e por maior que seja esse amor, um dia alguém irá sofrer, volvendo como um ciclo de vida e morte, de dor e prazer as três horas da manhã.

Ah! E se alguém disser que essa é a hora do cão, esse aí nunca amou ou sofreu de paixão.

Obs: esse texto poético foi feito em homenagem nossa gatinha Maria Alice que nos deixou.

Isaac Furtado

terça-feira, 14 de junho de 2016

VELHO MAESTRO II




Pois é velho maestro!
Depois de tanto esforço desprendido.
Tantos exageros! Quantas taças a mais,
por noites adentro derramadas?
Vai valer cada pulsar acelerado,
e cada palpitar no peito desmedido,
terá o seu motivo de existir.

Seja por raiva, ou amor desvairados,
nunca em plena razão desistir pela hora final,
tranquilo eu espero.
Pois, no último aperto, na dor derradeira,
com as lágrimas embotadas, eu te digo,
o cansaço será apenas um suspiro,
um até mais descompromissado.

E do futuro distante, eu pouco ligo,
tão pouco, suas interrogações demasiadas.
pois,E quero mais é exclamar o passado.
E como o tempo não descansa jamais,
enquanto força e fôlego eu tiver,
brandarei o meu verso descompassado,
a bater, a pulsar, a viver...

Isaac Furtado

sexta-feira, 20 de maio de 2016

Somos espejos rotos...


Cambridge

Nueva Inglaterra y la mañana.
Doblo por Craigie.
Pienso (yo lo he pensado)
que el nombre Craigie es escocés
y que la palabra crag es de origen celta.
Pienso (ya lo he pensado)
que en este invierno están los antiguos inviernos
de quienes dejaron escrito
que el camino esta prefijado
y que ya somos del Amor o del Fuego.
La nieve y la mañana y los muros rojos
pueden ser formas de la dicha,
pero yo vengo de otras ciudades
donde los colores son pálidos
y en las que una mujer, al caer la tarde,
regará las plantas del patio.
Alzo los ojos y los pierdo en el ubicuo azul.
Más allá están los árboles de Longfellow
y el dormido río incesante.
Nadie en las calles, pero no es un domingo.
No es un lunes,
el día que nos depara la ilusión de empezar.
No es un martes,
el día que preside el planeta rojo.
No es un miércoles,
el día de aquel dios de los laberintos
que en el Norte fue Odin.
No es jueves,
el día que ya se resigna al domingo.
No es un viernes,
el día regido por la divinidad que en las selvas
entreteje los cuerpos de los amantes.
No es un sábado.
No está en el tiempo sucesivo
sino en los reinos espectrales de la memoria.
Como en los sueños
detrás de las altas puertas no hay nada,
ni siquiera el vacío.
Como en los sueños,
detrás del rostro que nos mira no hay nadie.
Anverso sin reverso,
moneda de una sola cara, las cosas.
Esas miserias son los bienes
que el precipitado tiempo nos deja.
Somos nuestra memoria,
somos ese quimérico museo de formas inconstantes,
ese montón de espejos rotos.
Jorge Luis Borges
Elogio de la sombra (1969)
Arte digital: Isaac Furtado

quarta-feira, 13 de abril de 2016

O nascimento da beleza

Vênus de Hohre Fels, a imagem feminina mais antiga.

A admiração pela beleza remonta aos primórdios da civilização. O diferencial entre os animais que procuravam seu parceiro entre os mais belos da espécie, e os homens, que além deste aspecto, buscavam a beleza através do adorno, encontra-se nos nossos primeiros rituais. A característica primordial da humanidade é tida, hoje, como o ato de sepultar os seus mortos. E a preparação para morte já existia muito antes das pirâmides do Egito, onde os primeiros sinais de sepultamento datam de mais de cem mil anos. Os restos mortais em todas as tumbas espalhadas pelo mundo são ricas fontes de pesquisa arqueológica, pois além dos ossos, muitos utensílios eram deixados com seus donos. A transformação do corpo em busca de adquirir mais beleza e status social, pode ser notada, por exemplo,  em um colar de conchas, encontrado há setenta e sete mil anos numa caverna em Blombos, na África do Sul. Hoje, os índios são representantes legítimos, e herdeiros desta tradição, com seus cocares, batoques, brincos, plumas e pinturas corporais.
Quando o homem tornou-se mais adaptado ao clima, diminuiu sua migração em busca de alimento, deixando assim de ser nômade. Ele passou a construir suas primeiras casas e povoados, com isto, veio o sentimento de posse. O patrimônio começou a existir através domínio das terras, e principalmente através da herança dos filhos, que iriam da continuidade a sua linhagem. O papel da mulher passou a ter mais importância, e os núcleos familiares foram se formando. A fertilidade da terra foi associada à procriação feminina, e, de alguma forma, este aspecto tinha que ser representado. 
A arte foi criada, não apenas para ser admirada, mas como uma maneira de contar as histórias das caçadas, dos rituais religiosos, ou aspectos sexuais. Tornando-se assim, uma porta para o mundo estranho e desconhecido, das poderosas forças da natureza.  O homem tinha que se proteger deste sobrenatural, e os seus rudimentares objetos cortantes (como facas e lanças) não eram suficientes. Desta forma, os amuletos de proteção foram criados. Alguns destes pequenos artefatos chegaram até nós, e os mais impressionantes são as esculturas de representação feminina. Todas procurando mostrar através da sua exuberância o aspecto reprodutivo, com as mamas bastante volumosas, os quadris largos, e em alguns casos desproporcionais. Onde a representação da face, das mãos e dos pés não eram bem definidos, ou até inexistentes. Estas esculturas foram denominadas de Vênus, em alusão à deusa grega relacionada ao poder se sedução feminino e da fertilidade.
Hoje, em torno de, trezentas Vênus estão espalhadas pelos principais museus de história natural do mundo. Uma das mais famosas é a Vênus de Willendorf, com cerca de vinte e três mil anos, feita de calcário e pintada inicialmente de vermelho. Esta Vênus, mesmo com os seus onze centímetros de tamanho, tem uma grandiosa força representativa. Sua cabeça toda trabalhada na forma de tranças, não mostra a face. Os seus braços, quase inexistentes, repousam sobre as mamas, que por vez, são muitos grandes, assim como o abdome e a vulva.
No entanto, a imagem feminina mais antiga é a Vênus de Hohle Fels (foto), esculpida há mais de 35 mil anos, em marfim de mamute, com apenas 6 centímetros de tamanho, encontrada na Alemanha. Outras estatuetas merecem ser citadas, como a Vênus de Brassempouy, Lespugue, Sireuil, Savignano, Grimaldi, Kostienki, de Dolni Vestonice, de Malta, D’Avdeevo, Cucuteni, La Dormeuse de Malte, e Laussel. Nomes desconhecidos que foram as primeiras musas da arte, testemunhas do nascimento da beleza. Padrão que mudou muito nos nossos cem mil anos de história, na eterna busca pela beleza.

Fonte: Livro 100.000 ans de Beauté, vol. 01 - Préhistoire/Fondations; Gallimard; 2009

quarta-feira, 30 de março de 2016

Reflexões & Ações


Existem momentos para agir e outros para refletir. Na cirurgia plástica observamos algumas intervenções intempestivas ou exageradas. Às vezes, o mais difícil é não operar. Dizer não para um paciente pode ser frustante, no entanto pode ser fundamental. A indicação da cirurgia não é apenas clínica, mas também psicológica.
Com 20 anos de atuação na cirurgia plástica, observamos padrões comportamentais em vários grupos. Como a adolescente que quer colocar uma prótese mamária ou fazer uma lipoaspiração; ou uma senhora que quer retomar seu casamento fazendo algumas cirurgias. Ou ainda, os pacientes ex-obesos que fizeram a cirurgia bariátrica e mudaram completamente seu estilo de vida. São padrões comportamentais distintos, e cabe ao cirurgião diagnosticar as alterações, e operar ou não. 
Diante, das distintas possibilidades nas diversas atuações da cirurgia plástica, optamos por intervenções mais discretas, menos invasivas e pontuais (sem muitas cirurgias associadas). Na face, estamos na terceira geração da Ritidoplastia, com cicatrizes bem menores e recuperação mais rápida. Nos pacientes ex-obesos, fizemos um planejamento de 4 regiões bem definidas. No contorno corporal, acrescentamos a Lipoescultura com enxertia na região Glútea.
Desta forma, fazemos o papel de cirurgião plástico, não de esteticista ou dermatologista. Encaminhamos sempre para os melhores Dermatologistas os nossos pacientes para manutenção dos tratamentos, e temos muitos retornos dos mesmos. 
Assim, refletindo para uma melhor conduta, e atuando com a cirurgia mais sensata, obtemos os melhores resultados. Refletindo e agindo!

Isaac Furtado 
CRM 5243 RQE 1429

quinta-feira, 3 de março de 2016

CHRONOS

CHRONOS


Dormindo sobre uma tumba sepulcral,
ele a todos controla. De braços cruzados
e respiração compassada, observa.

Apenas, observa …
Os dias agitados e as longas noites insones,
As horas atropeladas e os minutos perdidos.
A vida do rebento e os derradeiros suspiros.

Mexer com o tempo ainda nos falta.
Acordá-lo do seu eterno meditar.
Suplicar por mais alguns segundos.

E assim, tudo segue o seu curso.
O rio de Heráclito, o espaço de Einstein,
e as dimensões curvas de Hawking.
Todos desejam seus segredos.

Chronos, passa a mão na longa barba
de crespos fios brancos e amarelados,
onde se esconde uma boca voraz.

Encostado em pálida lápide,
ele descansa. A tempos suas asas
de arcanjo maior não crispam no céu.
Pois, inimigos não existem mais.

A nós, resta somente admirá-lo.
Tecer versos de sua silenciosa epopeia,
sermos seus súditos impermanentes.

Isaac Furtado 

Arte Digital de Isaac Furtado