sábado, 27 de abril de 2019

Vírus



Meio vivo, meio morto ele segue.
Qual a sua essência? O seu papel?
Será que foi destinado por deuses
a nos acompanhar pela eternidade?

Mas, ele voa, congela e consegue.
Já sinto nos olhos uma dormência,
na boca o amargo gosto do fel,
e a febre me arde sem piedade.

Muito busca por seu hospedeiro.
Não por amor, ou por dinheiro.
Apenas para se dividir, pois
nem de sexo ele precisa.

Mal sabe se é um herói, um bêbado,
um condenado, ele investe certeiro.
Sem emoção, nem bem, nem mal,
apenas busca por um herdeiro.

Mito de três letras, somos primos
moleculares. Será que evoluímos?
Ele apenas se esquiva e transmuta.
Nos resta fortaleza e resistência.

Muitos tombaram aos seus pés.
Diminuto ser, se podemos dizer,
que habita em tudo, em todos.
Uma peste, da morte um viés.

Mais um espirro, um latejo na fronte.
Suplico por uma vacina para dor,
um chá quente. A semana já passou,
e ainda não vejo um horizonte.

Isaac Furtado