quarta-feira, 13 de abril de 2016

O nascimento da beleza

Vênus de Hohre Fels, a imagem feminina mais antiga.

A admiração pela beleza remonta aos primórdios da civilização. O diferencial entre os animais que procuravam seu parceiro entre os mais belos da espécie, e os homens, que além deste aspecto, buscavam a beleza através do adorno, encontra-se nos nossos primeiros rituais. A característica primordial da humanidade é tida, hoje, como o ato de sepultar os seus mortos. E a preparação para morte já existia muito antes das pirâmides do Egito, onde os primeiros sinais de sepultamento datam de mais de cem mil anos. Os restos mortais em todas as tumbas espalhadas pelo mundo são ricas fontes de pesquisa arqueológica, pois além dos ossos, muitos utensílios eram deixados com seus donos. A transformação do corpo em busca de adquirir mais beleza e status social, pode ser notada, por exemplo,  em um colar de conchas, encontrado há setenta e sete mil anos numa caverna em Blombos, na África do Sul. Hoje, os índios são representantes legítimos, e herdeiros desta tradição, com seus cocares, batoques, brincos, plumas e pinturas corporais.
Quando o homem tornou-se mais adaptado ao clima, diminuiu sua migração em busca de alimento, deixando assim de ser nômade. Ele passou a construir suas primeiras casas e povoados, com isto, veio o sentimento de posse. O patrimônio começou a existir através domínio das terras, e principalmente através da herança dos filhos, que iriam da continuidade a sua linhagem. O papel da mulher passou a ter mais importância, e os núcleos familiares foram se formando. A fertilidade da terra foi associada à procriação feminina, e, de alguma forma, este aspecto tinha que ser representado. 
A arte foi criada, não apenas para ser admirada, mas como uma maneira de contar as histórias das caçadas, dos rituais religiosos, ou aspectos sexuais. Tornando-se assim, uma porta para o mundo estranho e desconhecido, das poderosas forças da natureza.  O homem tinha que se proteger deste sobrenatural, e os seus rudimentares objetos cortantes (como facas e lanças) não eram suficientes. Desta forma, os amuletos de proteção foram criados. Alguns destes pequenos artefatos chegaram até nós, e os mais impressionantes são as esculturas de representação feminina. Todas procurando mostrar através da sua exuberância o aspecto reprodutivo, com as mamas bastante volumosas, os quadris largos, e em alguns casos desproporcionais. Onde a representação da face, das mãos e dos pés não eram bem definidos, ou até inexistentes. Estas esculturas foram denominadas de Vênus, em alusão à deusa grega relacionada ao poder se sedução feminino e da fertilidade.
Hoje, em torno de, trezentas Vênus estão espalhadas pelos principais museus de história natural do mundo. Uma das mais famosas é a Vênus de Willendorf, com cerca de vinte e três mil anos, feita de calcário e pintada inicialmente de vermelho. Esta Vênus, mesmo com os seus onze centímetros de tamanho, tem uma grandiosa força representativa. Sua cabeça toda trabalhada na forma de tranças, não mostra a face. Os seus braços, quase inexistentes, repousam sobre as mamas, que por vez, são muitos grandes, assim como o abdome e a vulva.
No entanto, a imagem feminina mais antiga é a Vênus de Hohle Fels (foto), esculpida há mais de 35 mil anos, em marfim de mamute, com apenas 6 centímetros de tamanho, encontrada na Alemanha. Outras estatuetas merecem ser citadas, como a Vênus de Brassempouy, Lespugue, Sireuil, Savignano, Grimaldi, Kostienki, de Dolni Vestonice, de Malta, D’Avdeevo, Cucuteni, La Dormeuse de Malte, e Laussel. Nomes desconhecidos que foram as primeiras musas da arte, testemunhas do nascimento da beleza. Padrão que mudou muito nos nossos cem mil anos de história, na eterna busca pela beleza.

Fonte: Livro 100.000 ans de Beauté, vol. 01 - Préhistoire/Fondations; Gallimard; 2009

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