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domingo, 4 de abril de 2021

Beleza e Medicina




A beleza está no conjunto da obra. A beleza imortal é o legado contínuo que transcende o corpo. A história da beleza humana através da arte, é a melhor forma de entender a evolução do que era considerado belo. Até o século XX, com a arte se desvencilhando da realidade. E a medicina ajudando na busca da beleza humana como ideal.

A medicina tem como objetivo primordial, prolongar a  saúde e perpetuar a vida o maior tempo possível. Em paralelo, a beleza na natureza também tem o objetivo de perpetuar a vida através do acasalamento. Pois, as espécies mais belas são mais procuradas, fazendo uma seleção natural. 

A história da medicina é muito baseada na Iatro História, muitas tentativas com erros e acertos. Hoje, estamos vivendo o exemplo do Coronavírus.

A primeira ideia de beleza nos vem à mente através da visão. E a citação “ A beleza está nos olhos de quem a vê” do poeta espanhol Ramón de Campoamor y Campoosorio, é a mais vulgarmente declamada.

Durante a evolução da humanidade, muito mudou em relação à beleza. Muitos padrões tornaram-se regras de ouro, outros foram rompidos. Para algumas culturas, pouco mudou. Como certas tribos africanas, onde os adereços ficaram inalterados por milênios. Um exemplo, é a tatuagem feita com espinhos que ferem a pele, findando em queloides. Esses relevos formam desenhos pelo corpo e pelo rosto. Adereços, jóias, cosméticos, todos empregados em nome da beleza.


O substantivo grego clássico para "beleza" era κάλλος, kallos, e o adjetivo para "belo" era καλός, kalos. Em grego koiné, a palavra para bonito ou belo era ὡραῖος, hōraios, um adjetivo que vem da palavra ὥρα, hōra, que significa "hora". No grego koiné, a beleza então era associada a "estar em sua hora / seu momento".  A palavra “bonito” chegou ao português no século 16. Descende do latim bonus (bom), provavelmente depois de uma tabelinha com o espanhol bueno, do qual tomou emprestado o diminutivo. Em resumo: bonito, na origem, é bonzinho. E para não deixar dúvida alguma no ar, “belo” vem do latim bellus, também diminutivo de bonus.


Os tipos de beleza podem ser divididos de três formas: Matemática, Genética e Cultural.

A beleza matemática é analisada de três formas: Harmonia, Proporção e Simetria. 

A harmonia é a ótima relação de proporção entre estruturas de uma determinada região, ou estrutura. Proporção é a relação de medidas constantes e em paralelo à outras estruturas. Como dizia Tomás de Aquino: “Os sentidos exultam ante coisas bem proporcionadas, já que estas se lhes assemelham; pois também os sentidos são uma espécie de razão, assim como qualquer força cognitiva.”

O matemático italiano Leonardo de Pisa, conhecido com Fibonacci, desenvolveu no século XIII uma sequência de números, onde a soma dos dois seguintes davam o valor do próximo. Formando uma espiral encontrada por toda natureza. De uma concha Nautillus, à espiral da Galáxia Via Láctea. 

A simetria dentro da beleza matemática pode ser classificada em: Rotacional, Translacional e Bilateral (Axial). Rotacional vista na Estrela do Mar. Translacional nas colmeias das abelhas. E a Axial é vista no nosso corpo, lado esquerdo e direito, dividida por um eixo axial. 

A beleza genética é transmitida pelas gerações, sofrendo pequenas mutações ao longo do tempo, com evoluções benéficas para sobrevivência da espécie. Os traços, como o tipo de cabelo, cor da pele, formato do nariz, fazem parte da beleza genética. No futuro, a ética na medicina irá determinar os limites, como a cor dos olhos, até altura da pessoa.

Finalmente, a beleza cultural formada pela associação de todos adereços de determinada sociedade. As pinturas corporais, tatuagens, queloides propositais, alongamento do pescoço - Mulheres Girafas na África, os pés pequenos das mulheres chinesas, ou os espartilhos das mulheres nas cortes europeias.

As primeiras representações artísticas eram amuletos para atrair uma boa fecundidade. Conhecidas como Vênus da Fecundidade. A mais antiga é a Vénus de Hohle Fels (35.000 anos. com 6 cm, encontrada em 2008 na Alemanha, com hipertrofia das mamas, e  regiões genitais. As mais famosas são a Vênus Willendorf 23.000 anos e 11 cm), e a Vênus de Laussel, com 46 cm. 

Os primeiros cânones de beleza foram criados no Egito, onde toda história foi transcrita nas paredes das pirâmides, e se eles queriam atingir a imortalidade, de certa forma, conseguiram, pois, seu legado ainda está lá cinco milênios depois. Os baixos relevos e as esculturas nos mostram uma civilização avançada em todos os aspectos, nas artes, medicina, engenharia etc. Os padrões de beleza esculpidos em bustos, como na esplêndida cabeça de Nefertiti, foram copiados pela civilização Grega no seu período arcaico. A fusão das duas civilizações pode ser encontrada em Alexandria, no período Helenístico, que teve seu final trágico na figura de Cleópatra VII, mito que reverberou por séculos, como ícone de beleza. Hoje, sabemos que sua beleza resplandecia não do seu físico, mas da sua capacidade de sedução, no domínio de várias línguas e persuasão.  

Impressionado, disse Napoleão na sua viagem ao Egito em 1798: “Do alto dessas pirâmides, quarenta séculos vos contemplam.” 

A Grécia foi indubitavelmente o berço da civilização ocidental, onde o domínio da escultura chegou ao ápice. As medidas humanas foram transcritas para construir os seus templos, utilizando o número phi (1.618) que era tido como divino, e sua proporção áurea era copiada por todos. Um dos artistas mais consagrados da época foi Policleto, que nos deixou grandes exemplares (como Doríforo, Discóforo, Hércules, Hermes, Hera, Efebo Westmacott, Amazona ferida), todos baseados no seu livro Cânone.

A Vênus de Milo, supostamente de Alexandros de Antioquia, 130 a.C. é um exemplo do perfil Grego. Na face, a região da glabela alta, continuando com o nariz, representa um exemplo deste padrão de beleza.

A história de Frinéia é muito interessante. Uma mulher muito bela na Grécia antiga, que era cobiçada para ser modelo de artistas. Contam que Eutias a acusou de profanar os Mistérios de Elêusis, mas, no momento do seu julgamento, Eurípedes disse: Mas, vêde: não seria doloroso condenar à morte a própria deusa Vênus? Piedade para com a beleza! A beleza a condenou e a salvou.

A história mitológica da Guerra de Tróia, também tem origem com a beleza. Páris escolheu Helena, mulher de Menelau, como recompensa por eleger Afrodite sendo a mais bela, em um concurso entre três deusas. Dando origem à guerra entre Troianos e Atenienses. 

Do outro lado do planeta, a civilização Olmeca, na América Central, com o Povo Jaguar (1500 - 400 aC.) fazia esculturas de cabeças colossais com fácies negróides.

No Brasil, o crânio de Luzia com traços negróides mostra uma civilização anterior aos ameríndios. Com mais de 12 mil anos. 


Umberto Eco, no livro A História da Beleza, nos fala da Beleza Apolínea e da Beleza Dionisíaca. Onde a Apolínea representa a beleza dos cânones, matemática, e a Dionisíaca é mais pela atitude, fugindo dos padrões clássicos.  


Na idade média, a arte volta-se para a religião, adornando igrejas e catedrais.


A obra O Nascimento de Vênus (1478), de Sandro Botticelli (1444 - 1510) é o primeiro tema renascentista exclusivamente leigo e mitológico. Mesma posição pudica é vista em várias Vênus (V. Capitolina, séc. II aC.)

  

No livro De divina proportione, Frade Franciscano Luca Pacioli. Com ilustrações de Leonardo da vinci nos deixou cânones clássicos da beleza. 


Frases clássicas sobre o belo:


“Beleza: onde vejo ordem na variedade, e onde, embora todas as coisas divirjam, todas concordam.”  Alexander Pope (1688 - 1744)


“O prazer com o belo é um deleite narcísico” Hegel.


No início do século XX o modelo de Le Corbusier - LE MODULOR, também era baseado no número Phi. O cubismo retifica a natureza, a estética é desvencilhada da natureza, a arte segue um caminho livre, pois a fotografia passou a cumprir o papel da arte por séculos. Vemos escolas variadas, como o Expressionismo, Impressionismo, Fauvismo, Cubismo, Abstracionismo, Arte moderna e Contemporânea, totalmente desvinculadas da estética.

A beleza na medicina vem da necessidade da reconstrução, principalmente no pós-guerra, com reconstruções de face, queimaduras, órteses de membros, e depois com a estética. Um nome que eu não poderia citar seria do professor Ivo Pitanguy, que nos deixou um legado, como a maior expressão da cirurgia plástica brasileira, elevando o nosso país como referência internacional. Um capítulo novo da medicina e da beleza é a Cirurgia Bariátrica, com a cirurgia geral e a cirurgia plástica tirando os estigmas da obesidade.


Concluindo, a história da beleza é o reflexo do conteúdo cultural da humanidade. A busca da imortalidade através da evolução da medicina. Construindo e desconstruindo, de uma arte feita um círculo sem feições, até múltiplas medidas bem definidas. Evoluindo de proporções corporais como guias exatos, até uma arte contemporânea sem regras, que hoje, não são padrões para a beleza humana. E, sempre, seremos atraídos por uma beleza imortal.


Isaac Furtado
Resumo da palestra Beleza e Medicina. Proferida na Reunião científico-cultural Ordinária, na Academia Cearense de Medicina. Em 11 de março de 2020. 



quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Segure firme!



O meu primeiro contato como residente com o professor Ivo Pitanguy foi no corredor da sua clínica. Eu já tinha dito que a princípio, iria apenas observar as cirurgias. Quando, de repente, fui puxado pelo braço - “Venha comigo!”. O professor chamou-me para auxiliá-lo numa cirurgia ambulatorial. Era um paciente com um tumor de ponta nasal, cirurgia feita apenas com anestesia local. Eu já estava mais nervoso do que o paciente. Era um senhor com os seus sessenta anos, com facies pletóricas, e eu pensei - Esse aí vai sangrar muito!
O professor muito educadamente me disse - “a sua função é apertar o nariz para evitar o sangramento”. E assim o fiz. Mas, de vez em quando, na minha inexperiência de R1 eu tentava limpar o campo com gazes, e o professor dizia - “segure firme!” O senhor, por momentos chegou a sorrir, talvez compadecido da minha situação de principiante. E eu, enquanto apertava o nariz, ouvia as palavras sábias do mestre. Ele, sabendo que a escritora Rachel de Queiroz era minha “prima velha”, como a mesma gostava que eu a chamasse, falou-me das histórias da Academia Brasileira de Letras e dos seus ilustres imortais. Enquanto isso, a cirurgia caminhava bem, sangramento a parte.
E eu, segurando o nariz, consegui dizer ao professor, que além de cirurgião era artista plástico. Ele logo se interessou pelo assunto e como um grande amante das artes, também deu a sua aula sobre o assunto. Falou-me de Dali e de outros grandes artistas que faziam parte do seu acervo. Por conta dessa conversa, através do Dr. Francisco Salgado, consegui logo depois uma bolsa da PUC para fazer as ilustrações cirúrgicas do professor, tanto para suas aulas, como para os trabalhos científicos.
Já rodado o retalho, eu estava mais controlado, mas ainda sem respirar normalmente. E apenas após o último ponto, quando percebi que podia soltar o nariz do paciente sem haver sangramento, consegui respirar profundamente. O professor disse - “faça um curativo compressivo”. Assim o fiz, e durante os três anos que estive no serviço, segurei muitos narizes, mamas e faces. Operei muito no terceiro ano da residência, o R3, e voltei para o Ceará com uma certeza: Quando você quer alguma coisa, você tem que segurar firme.

Isso aconteceu em fevereiro de 1993.

Texto publicado no livro Ivo Pitanguy, além do bisturi. Biografia de uma lenda; de Moises Wolfenson. 2017.


quinta-feira, 17 de agosto de 2017

FACI



O FACI é o acrônimo de “FACIAL ANTI-AGING COMPLETE IMPROVEMENT” (Completa melhoria anti-envelhecimento facial). Pois, a cirurgia plástica é apenas uma etapa com as cirurgias de Ritidoplastia e a Blefaroplastia. Pois, a Dermatologia coadjuvante é fundamental para a manutenção de uma boa pele. A Nutrologia e a Psicologia, também são importantes na manutenção da beleza e para melhor compreensão do envelhecimento sem exageros e transformações desmedidas.
Falando da cirurgia plástica, estamos realizando procedimentos menos agressivos, mais focalizados em determinadas regiões. Como na Ritidoplastia, que hoje se mostra mais natural e restrita ao terço inferior da face e pescoço. Cirurgia que evoluiu muito, com quatro pontos principais: sem a necessidade de cortar o cabelo, cicatrizes menores, ausência de drenos, e sem a necessidade de retirada de pontos. Todo o conjunto, repercute numa recuperação mais rápida, principalmente se for realizado a drenagem linfática no pós-operatório. Normalmente, ela é associada ao uso do preenchimento facial com o Ácido Hialurônico nas rugas de expressão e na remoludação do terço médio da face (MD CODES).
A outra cirurgia do FACI é a Blefaroplastia, para o tratamento do excesso de pele e de bolsas de gordura das pálpebras. Um detalhe importante da Blefaroplastia é a realização da Cantopexia Lateral, que evita a queda lateral do olho que muda a fisionomia. Todos esses procedimentos são feitos com anestesia local e sedação. Cirurgias menos agressivas que associadas aos recursos da dermatologia determinam um tratamento efetivo da pele e do envelhecimento facial.

domingo, 24 de julho de 2016

Máscaras da Humanidade

Os filósofos há muito tempo já nos falam do paradoxo do contrário, onde a juventude e a velhice coexistem no mesmo ser, mesmo corpo e mesma alma. Existe sim beleza na velhice, no “saber envelhecer”, pois existem aqueles de setenta anos que têm a mente de jovens, e no contrário, aqueles que já nascem velhos. Não como no filme “O estranho caso de Benjamin Button” em que o protagonista vai ficando mais novo com o passar do tempo, até morrer como um bebê no colo da sua amada, mas, pessoas que negam veementemente as marcas do tempo. Ao contrário de muitos filósofos, eu acredito que as marcas externas impressas na nossa face não são o verdadeiro problema, mas sim, as rugas escondidas na mente que tornam velhos aqueles que colocam suas máscaras sem cuidar do seu interior.


Os anseios narcísicos são maléficos quando, isoladamente, são buscados de uma maneira impensada e como forma de preenchimento de algum vazio, ou trauma interior. E desta maneira torna-se danoso àquele que em nome da autoestima trata apenas das máscaras superficiais.
Confrontando a cirurgia plástica e a psicanálise, eu diria que a primeira trata da máscara externa, e a segunda, das máscaras escondidas nas entranhas do inconsciente. As duas são de difícil tratamento, a cirurgia exige uma habilidade por parte do cirurgião plástico, não apenas de saber operar, mas de compreender os anseios particulares de cada paciente. E a psicanálise, pela paciência por parte do psicanalista em saber conduzir por anos uma catarse que não necessita de bisturi, onde o mal será extirpado pela palavra do analisado. E desta forma, estas máscaras podem sim, ser tratadas e cambiadas em nome da beleza, ou da juventude.
Não é pecado querer ser jovem, ou pensar-se como tal. Estamos vivendo em uma era de muitas benesses, onde a medicina oferece todo amparo para o corpo (da pele à calvície, do hormônio bioidêntico ao alimento integral, da cirurgia endoscópica ao quimioterápico). A literatura oferece toda informação possível para construção do nosso saber (da internet à livraria, da literatura de autoajuda às biografias completas, do artigo científico às redes sociais).
Hoje, a informação está literalmente no ar, só não se informa quem não quer. Só envelhece mal quem quer, pois todos sabem dos males do cigarro, do colesterol etc. Tem pessoas que ainda comem batata frita com refrigerante, que vivem de maneira sedentária e frequentam fumódromos. Em tudo há dualidade, o fazer ou não fazer o certo ou o errado. A natureza humana é dual, o corpo e a mente, o conflito e o equilíbrio. Devemos caminhar juntos em prol do “saber envelhecer”, e a fonte da juventude está no equilíbrio, no caminho do meio. Em comer bem, não comer muito, em dormir bem, acordar, ser feliz, amar, fazer cirurgias plásticas, terapias, brincar com as máscaras do tempo como no teatro, sabendo que sempre existirão as duas – a da comédia e da tragédia.

Isaac Furtado

quarta-feira, 30 de março de 2016

Reflexões & Ações


Existem momentos para agir e outros para refletir. Na cirurgia plástica observamos algumas intervenções intempestivas ou exageradas. Às vezes, o mais difícil é não operar. Dizer não para um paciente pode ser frustante, no entanto pode ser fundamental. A indicação da cirurgia não é apenas clínica, mas também psicológica.
Com 20 anos de atuação na cirurgia plástica, observamos padrões comportamentais em vários grupos. Como a adolescente que quer colocar uma prótese mamária ou fazer uma lipoaspiração; ou uma senhora que quer retomar seu casamento fazendo algumas cirurgias. Ou ainda, os pacientes ex-obesos que fizeram a cirurgia bariátrica e mudaram completamente seu estilo de vida. São padrões comportamentais distintos, e cabe ao cirurgião diagnosticar as alterações, e operar ou não. 
Diante, das distintas possibilidades nas diversas atuações da cirurgia plástica, optamos por intervenções mais discretas, menos invasivas e pontuais (sem muitas cirurgias associadas). Na face, estamos na terceira geração da Ritidoplastia, com cicatrizes bem menores e recuperação mais rápida. Nos pacientes ex-obesos, fizemos um planejamento de 4 regiões bem definidas. No contorno corporal, acrescentamos a Lipoescultura com enxertia na região Glútea.
Desta forma, fazemos o papel de cirurgião plástico, não de esteticista ou dermatologista. Encaminhamos sempre para os melhores Dermatologistas os nossos pacientes para manutenção dos tratamentos, e temos muitos retornos dos mesmos. 
Assim, refletindo para uma melhor conduta, e atuando com a cirurgia mais sensata, obtemos os melhores resultados. Refletindo e agindo!

Isaac Furtado 
CRM 5243 RQE 1429

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Estética e Paixão


A dificuldade em lidar com dois conceitos de caráter tão pessoal, como a estética e a paixão, é que torna este assunto tão fascinante. A importância da estética na investigação filosófica é compartilhada com a ética e a lógica, que caminham mais nos trilhos da razão. A origem grega aisthesis significa “percepção através dos sentidos e/ou dos sentimentos”. Logo, a beleza não é apenas a imagem impressa na retina, mas, elaborada e fixada de forma prazerosa, apaixonante, no córtex cerebral. A complexidade de enquadramento dos padrões de beleza é que, talvez, tenha retardado a criação do conceito “estética”. Que, só foi utilizado em 1750, pelo filósofo Alexander Baumgarten, ao nomear a obra Aesthetica, abordando a disciplina que procurava sistematizar as diversidades da beleza de forma racional. Thomas Mann, no livro “Morte em Veneza” falava que das quatro virtudes (bondade, beleza, sabedoria e verdade), onde, a única que era percebida por meio dos sentidos, era a beleza.
        O assunto é universal, impossível de não ser comentado por qualquer ser humano, independente de sua cultura, classe social, ou instrução. Mesmo com o conceito: “beleza não se discute”, não ficamos apáticos (ausentes de paixão), e ao comentarmos sobre a beleza existe sempre uma primeira impressão processada em nossa mente, que automaticamente responde: é belo, ou é feio. Mas, baseado em que experiência nós emitimos este comentário de forma tão imediata? Que necessidade temos de nos embelezarmos com os ternos Armani, usados pelos homens de negócio de Wall street , ou trajando apenas um estranho batoque labial, usado pelos índios Caiapós? Com piercings, tatuagens, pinturas de guerra, cosméticos e cirurgias plásticas? Desde quando o Homo sapiens admira suas obras rupestres e o seu semelhante? Será que este sentimento nos remete mais remotamente? Três milhões e meio de anos atrás, aos olhos de Lucy, que aceitava seu parceiro pela estrutura forte, proporcional e bela, com o intuito de perpetuar sua espécie. Assim, como fazem as aves com suas plumas coloridas, os alces com seus enormes chifres simétricos, para impressionar suas fêmeas. E desta forma, desde que foi desenvolvida a reprodução sexuada para multiplicação das espécies, a beleza é imprescindível e ligada a boa saúde de qualquer animal ou vegetal? Mas quando a paixão foi adicionada a este sentimento de atração física na evolução do homem?
Nos dias de hoje, aquilo que vemos no nosso semelhante não é apenas a ação da evolução das espécies, mas da nossa espécie capaz de realizar um face-lift, paralisar rugas de uma senhora de meia-idade, ou apenas na capacidade de apreciar a beleza do sorriso de um bebê, ou a serenidade nos cabelos muito brancos de nossas avós. Esta beleza, que nos afeta de maneira apaixonante, é antropológica e divina, é cultural e genética, é moderna e imemorial. Na mitologia Grega, Paris, no julgamento daquela que seria eleita a mais bela, abnegou o poder e a sabedoria oferecidos pelas concorrentes, elegendo Afrodite, que lhe prometera a mulher mais bela, Helena. E assim, foi a origem mítica da primeira guerra, Troia.


Lucy. Trabalho em acrílica e colagem. 140/120cm. Isaac Furtado

Segundo Baudelaire, a beleza tem sempre dois elementos, o eterno invariável, e o elemento circunstancial relativo, variando com a idade, a moda, a moral e as emoções. E sempre nos remetemos ao campo das paixões. Nietzsche, na obra O nascimento da tragédia, estabeleceu uma síntese sobre as belezas apolínea e dionisíaca, não as colocando como opostas, mas complementares. A beleza apolínea, geométrica e canônica, seria completada pela beleza dionisíaca, alegre, perigosa, diria até insana, e que foi oculta até a idade moderna. Onde a ideia de eternidade era uma potência criadora de beleza. Hegel, já falava que “o prazer com o belo é um deleite narcísico”. Mas, estar belo é estar em harmonia apenas na superfície, pois internamente nenhum ouro nos orna, não há brilho onde não há luz. A escuridão interior é inconsciente, nem feia nem bela, é um Hades a ser transposto por Orfeus em busca de sua paixão, sua beleza personificada na imagem de Eurídice. E esta viajem que muitos temem fazer, não apenas em busca do “self”, do resgate da sua beleza, materializada na busca da verdadeira paixão, do amor.
Kant, não reconhecia o belo como valor absoluto, para ele existiam dois tipos de sensações: a aisthesis e a estética. A sensação aisthesis é sensível, empírica, e objetiva (ligada ao objeto), ligada às coisas lógicas que formam um juízo determinante, com uma exigência de universalidade e de necessidade. E a sensação estética referente à ciência do belo, subjetiva, na fruição do prazer e desprazer, e ligada ao sujeito para formar um juízo estético/reflexivo sem interesse em sua função, onde um objeto é simplesmente belo. Ele classificou a beleza em natural e artística. A primeira sendo simplesmente a coisa bela, e a segunda uma bela representação de uma coisa( a obra de arte).
Longe do conceito de Platão e de Aristóteles, que consideravam a beleza proporcional a bondade, valorizando a contemplação da natureza e tendo a sabedoria como forma mais sublime da beleza, hoje cuidamos muito da estética, mas, sem questionar seu valor real, seja numa visão cosmológica ou antropológica.
Existem muitos prismas para definir o belo (semântico, psicológico, metafísico, ético, axiológico). Porém, é esta retórica bela e apaixonante, com múltiplas definições que nos faz esquecer do seu oposto, a feldade. E como diria um cearense legítimo “Oh bicho feio!”, na sua mais espontânea exclamação diante de alguém desprovido daquilo que temos como beleza. Nos causando repulsa. O termo “feiura” em latim foeditas, que quer dizer “sujeira”, “vergonha”. Em francês, laideur vem do verbo laedere, que significa “ferir. E Hässlichkeit, em alemão deriva de Hass, que significa ”ódio”. Apetite irascível, segundo Tomás de Aquino, que remete ao oposto do amor, assim como a fuga e o desejo, a tristeza e o prazer. Esta incompletude é cada vez mais notada pela exposição na mídia de modelos com seus rostos e corpos esguios que moldam os padrões de beleza. E aos mortais que serão devorados por Cronos inevitavelmente, e se sentem inferiorizados, cabe apenas a busca ao consumo capitalista para embelezar seu corpo externamente, buscando a mudança do contorno corporal desenfreadamente em academias de ginástica, ou no bisturi dos cirurgiões plásticos. Mas qual o limite da beleza? Que mal existe em quer melhorar sua imagem, sua autoestima? Até onde nossas imperfeições nos tornam culpados? Onde se encontra a identidade de alguém após um transplante de face? Qual o limite da nossa paixão pela estética? 

Isaac Furtado
Artigo publicado no Jornal Gazeta do Centro-Oeste, 19/04/11    

              


Bibliografia:

  1. A Lei do mais belo: A ciência da beleza. Nancy Etcoff. 1999
  2. A História da Beleza. Umberto Eco. 2004

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

O artista e o cirurgião



Acredito que todos tenham o seu talento pessoal, ou algo próprio a transmitir. O meu, desde cedo, já descobri nas artes visuais. Gosto muito de dizer: sou artista e estou cirurgião plástico. Pois quando decidi fazer medicina, já sabia que o meu lugar era na cirurgia plástica. Na escola do Prof. Ivo Pitanguy encontrei a minha maior inspiração, com aquele que não ensinava apenas técnicas, mas transmitia a sua filosofia. Lá passei três anos como residente e também realizando os desenhos de técnicas e cirurgias que o professor me solicitava. Aquarelas que fazia com muito gosto, que também me ensinavam a compreender melhor as cirurgias. Para fazer esse serviço, tinha uma bolsa da PUC que muito me ajudou. Hoje, em Fortaleza, sigo o meu caminho me dedicando a cirurgia e sempre que possível às artes. Nossa especialidade demanda muita atenção, mas não abandono meu lado artista, pois, acima de tudo, os dois são trabalhos perfeccionistas.

O homem deve parar e repensar o seu cotidiano, para não entrar na rotina esquecendo o objetivo da vida. Sempre na busca da realização pessoal e da felicidade. Todos devem procurar o seu dom, na música, na dança, na poesia, nas artes plásticas, no teatro ou na oratória. Afinal são nove as musas inspiradoras da mitologia grega, você deve se afeiçoar a uma delas. E desenvolver uma atividade paralela que irá lhe enobrecer. Nós médicos, nos tornamos muito técnicos e pouco humanos. As artes nos sensibilizam para os pequenos detalhes e as coisas simples da vida. Pretendo seguir na minha estrada, revezando entre o pincel e o bisturi. Pois, nos dois existe a criação, em aquarelas ou Mamoplastias; em telas à óleo ou Rinoplastias.

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Entrevista com Isaac Furtado sobre cirurgia plástica, arte e saúde.





Como surgiu o interesse pela cirurgia plástica?

Quando decidi fazer medicina já estava pensando na cirurgia plástica. Como artista plástico me agrada muito a ideia de construir o belo.

A quê o senhor atribui o sucesso e o respeito da sociedade com o seu trabalho?
Acredito que a dedicação, a habilidade manual e a seriedade são fundamentais.

Quais as principais dificuldades encontradas desde sua formação até hoje no âmbito profissional?
Entender que existem limitações em alguns resultados. Pois, conforme diz o Prof. Ivo Pitanguy “ o cirurgião, diferentemente do artista plástico, é escravo da anatomia.”

De que maneira avalia o atual mercado de cirurgias plásticas? O senhor acha que a excessiva popularização do segmento é um risco à área?A popularização da cirurgia plástica é consequência dos bons resultados. Já o mercado atual está muito modificado por práticas antiéticas de alguns cirurgiões ( como exposição de fotos de pacientes e muita autopromoção, o que é proibido pelo Conselho Federal de Medicina).

Profissionalmente falando, quais os próximos passos na sua carreira médica?

Esse ano estou completando 20 anos de cirurgia plástica. E ano que vem pretendo construir uma clínica, com uma equipe integrada em prol do bem estar e da beleza.

Se tivesse que arriscar uma resposta, como o senhor acha que estará o mercado de cirurgia plástica daqui a 10 anos? Alguma revolução poderá ser vista em 2025?Como pessoa, qual sua expectativa para a próxima década?A cirurgia estética é um mercado para poucos, e os resultados são lentos. É como o mercado de luxo, acredito que em 10 anos vai melhorar. Acredito que vai surgir muita coisa boa para cicatrização, decorrente de manipulação genética e nanotecnologia. Com relação as técnicas cirúrgicas apenas alguns aperfeiçoamentos e cicatrizes menores.

Parte considerável da classe médica critica de forma veemente o programa “Mais Médicos”. Qual sua avaliação sobre o tema?O médico tem que ter uma boa formação e muitas universidades não oferecem isso. Estando formado, todos procuram um bom salário e condições de trabalho razoáveis. Muitos locais do programa Mais Médicos não oferecem isso. Hoje, a maioria dos brasileiros inscritos no primeiro ano já abandonaram o programa. É uma ajuda muita paliativa.

Qual sua sugestão para uma melhoria do funcionamento da saúde pública no País?
Mais educação e menos corrupção.



O senhor integra o seleto grupo de médicos que estudaram com o professor Ivo Pitanguy. Como define a importância dele em sua carreira?
Não sei como teria sido minha formação e se eu não tivesse participado dessa escola. A filosofia do Professor Pitanguy foi um marco na minha carreira.


Sobre sua veia artística, como teve início?
Desde criança já venho pintando. É um dom que sempre me acompanhou e me ajuda na cirurgia plástica na avaliação de simetria, harmonia e proporção.


Quais artistas mais influenciaram na sua forma de se expressar?
Artistas locais eu citaria: Descartes Gadelha e Antônio Bandeira. Internacionais são muitos! Dos renascentistas, barrocos e impressionistas.


Qual o planejamento a médio prazo para sua carreira artística?
Todo ano faço uma exposição. Além dos livros de poesia. Agora como membro da Academia Cearense de Médicos Escritores, sinto-me na obrigação de divulgar mais ainda nossa cultura.


Como o senhor cuida do corpo, da saúde e da aparência? É um homem vaidoso?
Tudo na medida certa. Mantenho meu peso há mais de 15 anos. Faço atividades aeróbicas, como caminhadas e os Ritos Tibetanos, que oferecem um excelente alongamento e meditação. Vivo na “fogueira das vaidades”, mas procuro não me queimar. A vaidade tem seu ponto de equilíbrio.


De que maneira administra o tempo entre o trabalho e a família?
Faço muitas coisas durante o dia, entre cirurgias, consultório, artes visuais, literatura e família. A ordem dessas atividades altera muito.


Qual seu tipo de música preferida?
Gosto muito de jazz e bossa nova.


O que curte fazer nas horas vagas?
Tomar um bom vinho harmonizado com a gastronomia. Claro, na companhia da minha mulher.


Para finalizar, se pudesse mudar algo no mundo, o que seria?
A solução para tudo está no autoconhecimento, que alcançado através da cultura e da aceitação da nossa impermanência. Temos que aproveitar cada momento, pois, como dizia Horácio: “Carpe diem!”

Entrevista para Coluna Frisson: http://cnews.com.br/frisson/entretenimento/92752/isaac_furtado



quarta-feira, 17 de junho de 2015

Anatomia da Face - parte I


O formato do rosto é um somatório de várias estruturas faciais. A primeira e mais profunda é a estrutura óssea. Na face são 14 ossos ao todo (1 Mandíbula, 1 Vômer, 2 Zigomáticos, 2 Maxilas, 2 Palatinos, 2 Nasais, 2 Lacrimais e 2 Conchas Nasais Inferiores). Na parte inferir central, a Mandíbula faz a protrusão do queixo (mento); lateralmente, o corpo da mandíbula é mais forte nos homens e mais delicado nas mulheres. O ângulo da mandíbula depara o corpo do ramo, subindo em direção ao lóbulo da orelha. Na parte central da face temos a Maxila, unida medialmente com os ossos nasais e lateralmente com o Zigoma, formando a conhecida “maça” do rosto. A maxila e a mandíbula formam a oclusão dentária. Essa oclusão é normal quando os dentes superiores ultrapassam discretamente os inferiores. O Retrognatismo é quando os dentes inferiores são muito retraídos deixando o queixo curto. Já o Prognatismo é quando os dentes inferiores ultrapassam os superiores. Nesses casos  podem ser usados aparelhos ortodônticos, ou cirurgias ortognáticas estéticas. O nariz tem o seu terço superior formado pelos ossos nasais e lacrimais, que formam a pirâmide nasal, juntamente com o Processo Frontal da Maxila. Esses ossos podem ser mais altos ou largos,  quando pode ser indicada a Rinoplastia com fratura. O terço superior da face é formado pelo osso Frontal, que se une com os demais ossos da calota craniana. O rebordo orbitário é onde ficam os olhos, sendo formado, principalmente, pelo osso Frontal, Zigoma e Maxilar. A calota craniana (crânio) é formada por oito ossos (2 Temporais, 2 Parietais, 1 Esfenóide, 1 Occipital, 1 Frontal e 1 Etmóide) localizados na porção superior, lateral e posterior da cabeça.
Acima dos ossos nós temos os músculos responsáveis pela expressão facial, são os únicos que não apresentam bainhas faciais. Na parte superior se estendendo paralelamente até a nuca temos o músculo Occipito-frontal que movimenta o couro cabeludo (escalpo). Na mímica dos olhos, com relação as sobrancelhas, temos o Corrugador do supercílio que eleva, o Depressor que deprime e o Prócero que aproxima os supercílios. O Orbicular dos olhos fecha as pálpebras. O músculo Nasal movimenta as asas do nariz. Os Zigomáticos Maior e Menor movimentam os lábios e também o nariz.
Um conjunto de músculos fundamentais são os da mastigação, o Temporal fecha a boca e retrai a mandíbula; o Masseter também fecha a boca. O Bucinador que forma as bochechas empura o alimento de volta aos dentes, auxiliando de forma indireta na mastigação. O sorriso e os movimentos do lábio são determinados pelos: Risório de Santorini, Depressor do ângulo da boca, Elevador do ângulo da boca, Levantador do lábio superior, Depressor do lábio inferior e o Orbicular da boca.
Platisma é um músculo que abrange toda parte anterior do pescoço, e comunica-se com a face através de uma estrutura vestigial, o SMAS (superficial muscle aponeurotic system). Muito alterado com o envelhecimento facial. No pescoço ele torna-se flácido formando as Bandas Platismais (aquele pescoço de “Peru”). Já o SMAS sofre uma descida na lateral da face, originando a chamada “Bochecha de Buldogue”. Os dois sempre são tratados quando é feita a cirurgia da face (Ritidoplastia).
No entanto, a nossa face a formada por muito mais do que ossos e músculos. No tecido sub-cutâneo e na pele é onde encontramos as maiores alterações. E onde podemos interferir mais em prol da beleza.


BIBLIOGRAFIA SOBOTTA, J./ Becher, H./ Werneck, Wilma Lins. Atlas de anatomia humana, v. 1, 20ª Ed., Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 2001.

ARTE: Damien Hirst's Exquisite Pain.