domingo, 31 de julho de 2016

IBIAPABA



O velho cacto persistia indiferente a tudo,
sem muito visco, sem muita glória.
Ali, mudo com a sua coroa de espinhos,
sentindo-se abençoado pela igrejinha.
Outra demão de tinta foi dada,
e a praça toda caiada fazia
lembrar a inocência doutrora.
As cadeiras de balanço nas calçadas,
comadres a falar da vida alheia.
O jogo de dominó no bar da esquina.
E a buzina da bicicleta desenfreada
esbarrava no tempo, trim-trim...
A antiga estação de trem
da pequena Ibiapaba
fica logo ali em baixo.
Esperando por finas encomendas,
despachando finados desenganos.
O rio PotI suspira,
mas, ninguém o ouve,
e as suas intermitências
ficam cada vez maiores.
Esperando antigos favores,
uma represa d'água que não chega,
uma breve solução almeja.


Já passava do pino do meio dia,
o movimento da praça desapareceu.
Apenas um cachorro procurava por uma sombra.
O vento quente do sertão deu uma rajada,
e as frondosas Acácias se agitaram,
avisando que ainda havia vida por ali.


O velho cacto observava imóvel,
ali sentado no seu trono
de lata enferrujada.
A espera da próxima chuva,
da promessa pífia da política.
Aguardando aquele céu bonito,
que aparece quando o inverno dá a sua graça.
Aguardando que a sua prece seja rogada.
Pois, esperar por quase nada,
é a sua triste sina.

Isaac Furtado

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