quinta-feira, 10 de maio de 2018

Labirintos verdes II


Alguns meses se passaram da sua última parada nas margens do rio. Após seis longos anos de estiagem, a chuva desabou dos céus aos borbotões.Trazendo vida em abundância e verdes de todos os nuances possíveis. A copa da Marizeira estava plena, dando uma sombra aprazível no banco de madeira ao lado, sempre ocupado. Apesar dos reparos e poda das árvores, a trilha estava mais estreita, pois a vegetação parecia ignorar o seu limite. Os Avencões com as suas longas palmas, pareciam querer abraçar os transeuntes. Cipós despencavam do alto, fazendo tranças e cortinas vivas. A vida parecia perfeita e incólume dentro daquela ilha incrustada no coração da metrópole. Cidade sufocada pelos males dos homens, sufocada pela intolerância, pela ignorância, arrogância, ânsia de vômito, somente aliviada pelo cheiro do mato, que aumenta à medida que penetramos os caminhos soltos do mangue. Refúgio de vida que transborda e nos ensina que - basta caminhar sereno, ouvindo os pássaros, sentindo a brisa molhada, observando as garças pescando, ouvindo o silvo dos soins. Porém, mesmo no centro do parque ainda ouvimos vestígios da civilização.

Anseio permanecer muitos anos por aqui, meditar pela trilha, caminhando através de pensamentos serenos. Sei que o tempo é implacável e, às vezes, quebra pontes sem querer. No entanto, aquele galho pesado que pende e cai depois do chuva, é apenas uma transformação, um desvio sem danos. Muito diferente das tempestades que assolam a cidade, atônita pela violência. E todos comentam - Que saudade do tempo em que ao invés de grades e muros, nós colocávamos cadeiras nas calçadas!

Isaac Furtado

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