sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Calajadas


Seca o cuspe na calçada.
Nasce o dia já bem quente.
Vai-se embora a alvorada.
Vão-se as horas, os dias, as memórias.
Viram os séculos, os regimes ambidestros.
Mas, a seca ainda assola. É o mais vil dos maestros.

Cala a boca de cansaço.
Calo duro da velha enxada.
Calejados os joelhos de tantas preces,
as mãos ásperas e o coração partido que padece.

De chita é o vestido. De cobre o candeeiro.
De jiló ou algo parecido, canta o sanfoneiro.
Rachada é a terra, o leito daquele que já foi rio.
O cágado jaz emborcado no fundo do açude seco.
O gado já pegou o beco. Partiu numa nuvem carregada.
Alguém me explica porque tanto sofrer não dá em nada.

Isaac Furtado

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